Vincarte - Comércio e Fabricação de Embalagens de Cartão Canelado, Lda.
A empresa Vincarte – Comércio e Fabricação de Embalagens de Cartão Canelado, Lda., foi criada em vinte cinco de novembro de 1974, por sete mulheres, sem qualquer experiência no sector das embalagens de cartão, todas elas ex-trabalhadoras da empresa Manuel Pereira Roldão & Filhos, Lda., encerrada em 1995.
Foi com o exclusivo apoio financeiro da Caixa de Crédito Agrícola de Leiria e com a colaboração do IEFP e Câmara Municipal da Marinha Grande, que trabalhadoras desempregadas da área administrativa, conseguiram montar a empresa e consolidar a sua actividade.
Em um de fevereiro de 2006, os atuais sócios adquiriram a totalidade do capital, depois de identificarem os pontos fortes e pontos fracos da empresa.
Pesou na decisão da compra o facto de a Vincarte – Comércio e Fabricação de Embalagens de Cartão Canelado, Lda. apresentar um bom rácio de autonomia financeira, uma margem bruta do negócio muito acima da média do sector e não apresentar dívidas, quer ao Estado, quer à Segurança Social, quer aos trabalhadores.
Como pontos fracos foi identificada a excessiva dependência do subsector da cristalaria, já em crise, e o consequente risco de crédito, sendo que cerca de 65% das vendas se dirigia para o sector vidreiro e, dentro desta carteira de clientes, três representavam mais de 60% do crédito concedido.
A empresa não dispunha de um sector comercial, não procurou clientes noutros sectores de atividade e o ano de 2005 apresentou já uma queda significativa do volume de negócios e fechou com resultados líquidos negativos importantes.
Perante este quadro, os novos sócios decidiram e puseram em prática um conjunto de investimentos significativos ainda no 1.º semestre de 2006, melhorando o seu parque de máquinas por forma a poder responder, com qualidade, à procura de outros mercados, mais exigentes e mais competitivos, diversificando a carteira de clientes, com o objectivo de diminuir, o mais rapidamente possível, a sua dependência dos clientes da área do vidro.
Apesar do esforço e muito embora o ano de 2006 tenha fechado com um aumento dos proveitos na ordem dos 48,5%, o exercício ficou marcado pelo colapso das vidreiras, em maio de 2006, que deixou um rasto de incobráveis de largas dezenas de milhares de euros.
A perda destes clientes do subsector da cristalaria, que valiam 65% do total das vendas, com preços que garantiam margens brutas superiores a 100% e a sua substituição por novos clientes, mais exigentes e a operar em sectores muito mais competitivos, obrigaram a uma acentuada diminuição das margens e ao investimento em cortantes e clichés para impressão a uma e duas cores, que até 2005 não se fazia.
Nesta fase, foi necessário recorrer a empréstimos dos sócios, que mais tarde se converteram em prestações suplementares de considerável volume, para ultrapassar os constrangimentos criados pelos episódios atrás descritos, procurando manter o rácio de autonomia financeiro num patamar adequado.
O efeito conjugado das perdas extraordinárias com os incobráveis por insolvência dos clientes do vidro e dos encargos com os investimentos feitos, obrigou a adotar uma estratégia de desinvestimento, tendo sido cedida a nossa posição no leasing imobiliário celebrado com a Caixa Geral de Depósitos para aquisição do terreno e edifício a um terceiro, no ano de 2008.
Daqui resultou um aliviar do serviço da dívida, mas também a assunção de prejuízos extraordinários correspondentes ao valor do capital amortizado até à celebração da escritura com o novo proprietário, agora senhorio.
Quando se esperava ter a situação controlada, surge a crise mundial cujos efeitos ainda se sentem na atualidade e que teve um impacto muito forte nos resultados do ano de 2009, período em que a empresa também não conseguiu liquidar regularmente a renda das instalações, situação que se foi agravando ao longo dos anos.
Não obstante este quadro macroeconómico que afetou transversalmente
toda a economia, a Vincarte, Lda. reiniciou um ciclo de crescimento das vendas
e de resultados, que só foi interrompido em novembro de 2013, devido a três
fatores conjugados:
- Encerramento, em maio de 2013, de dois importantes clientes, que deixaram em cheques sem provisão, letras aceites e factoring por regularizar, mais umas dezenas de milhares de euros, que não foi possível recuperar.
- Entrada em Plano Especial de Revitalização de um cliente de Ourém, que acabou por insolver em 2017 e deixou mais de 10.000,00€ de cheques pré-datados sem provisão;
- Amortizações e regularizações forçadas pelos bancos das contas correntes caucionadas (CCAM de Leiria, CGD e BPI), que obrigaram a um esforço de tesouraria superior a 30.000,00€.
A partir daqui, sem qualquer apoio da banca, a tesouraria colapsou e a empresa não conseguiu cumprir os compromissos com o principal fornecedor de matéria-prima, que, naturalmente, colocou sérias restrições ao normal fornecimento que é necessário para satisfazer as encomendas em carteira.
A diminuição drástica nos fornecimentos de matéria-prima determinou uma falha continuada nos prazos de entrega aos clientes, abalando a sua confiança e pondo em causa os níveis de fiabilidade que já eram dados como adquiridos.
Tendo em conta todos os constrangimentos atrás relatados, a empresa foi forçada a apresentar um Plano de Revitalização que deu entrada em agosto de 2014 e transitou em julgado em julho de 2015, que está em curso e tem sido cumprido com todo o rigor.
Considerando os condicionalismos que o PER sinalizou, a empresa fez
alguns ajustamentos, por forma a recuperar níveis de vendas iguais ou
superiores aos de 2012 e 2013, que vieram a garantir o retorno financeiro
suficiente para honrar os compromissos que assumiu, a saber:
- Reduziu o seu quadro de pessoal em duas pessoas na área da fabricação;
- Prescindiu dos comerciais, assumindo o sócio-gerente, Armando Gonçalves Constâncio dos Santos, essa função;
- Recorreu a outsourcing junto das empresas suas parceiras, para a colocação de encomendas de quantidades acima das 5.000 unidades, negociando previamente o valor da transformação;
- Celebrou contratos de subcontratação para produzir e entregar encomendas de pequenas quantidades a pedido dos nossos parceiros, integrando o preço a nossa margem de produção e custo do transporte.
Consumada a estratégia, a Vincarte reuniu todas as condições para honrar os seus compromissos e cresceu, de forma sustentada, dentro do seu segmento de mercado, quer em volume de vendas, quer em resultados de exploração, tendo assegurado uma parceria com um dos seus mais importantes credores, fornecedor da matéria-prima, a DS Smith.
No período de execução do PER, desde julho de 2015 até esta data, verificou-se uma melhoria substancial dos Indicadores de rendibilidade da empresa, com particular destaque para a rendibilidade do Ativo, para a rendibilidade Líquida das Vendas e para a rendibilidade Financeira como resultado de a empresa voltar a uma situação de Resultados Positivos.
A transformação da dívida de curto prazo em dívida de médio e longo prazo, por transferência dos saldos das contas de Empréstimos Bancários, Fornecedores e Outros Credores, de Curto Prazo, para Médio e Longo Prazo, teve uma influência muito positiva na Liquidez da empresa, assim como na Estrutura e Equilíbrio Financeiro.
Quando tudo parecia controlado e a empresa evidenciava uma curva ascendente de vendas, o fatídico incêndio de domingo, 15 de outubro de 2017, marca o evento mais dramático que se verificou na nossa região e galgou para outros concelhos do litoral centro, reduzindo a cinzas o nosso pinhal de Leiria, mas também a nossa empresa e, no rescaldo, o que sobrou foi cinza e ferro retorcido.
Perante este quadro que retrata a tragédia que se abateu sobre a empresa, os sócios da Vincarte não baixaram os braços e dois dias depois já estavam instalados na desactivada empresa Embalnor, nos Pouso, gentil e graciosamente cedida por familiares, pelo tempo necessário à recuperação da nossa capacidade produtiva.
Sem equipamentos e despojados de tudo o que era o nosso património, restava-nos preservar o nosso melhor activo, que são os nossos clientes e isso conseguimo-lo recorrendo a outsourcing, para continuar a satisfazer as encomendas.
Esta solução só pôde ser mantida por curto período de tempo, porque as empresas que nos prestam serviços são nossos concorrentes directos e passam a ter acesso aos nossos clientes e são elas que arrecadam as margens do negócio, com a agravante de não nos ser possível controlar prazos de entrega e níveis de qualidade.
No dia 7 de março de 2018, a nossa candidatura ao Programa REPOR foi submetida com sucesso e, apesar das vicissitudes do processo que se tornou demasiado burocrático, a Vincarte foi apoiada com cerca de 35% dos capitais necessários para repor a capacidade produtiva instalada que tinha no dia da tragédia, mas nem isso a impediu de se reequipar, tendo recorrido à linha de Crédito para Apoio às Empresas Vítimas dos Incêndios, com 90% de garantia do Estado através da Garval, a que a Caixa de Crédito Agrícola Mútua de Leiria correspondeu positivamente.
Hoje a Vincarte desmente a ideia de que as empresas em PER são inviáveis, o que leva os bancos à recusa automática de concessão de crédito, mesmo àquelas, como nós, que apresentam resultados positivos durante 4 exercícios consecutivos e afirma-se, no segmento de negócio onde opera, como uma empresa fiável, com uma estrutura leve e flexível e uma grande proximidade com o cliente e com as suas necessidades, factores onde se alicerça o seu sucesso.